domingo, 30 de setembro de 2018

Asilo

Vermelhos, amarelos e castanhos
cadentes
juntam-se na terra.
Também tu,
vermelho, amarelo ou castanho
cadente
te amontoas
com outras cores que tais.
És também fruto:
romã, dióspiro, figo, castanha ou maçã,
e queres roer os dias
como costumavas.
Que riscos se desenham ainda nos céus?
Já não tudo.
E ainda a imensidão.
Canta.
Se puderes.
E faz do outono
a tua pedra filosofal - fénix renascida

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Inventário

Rezam
alucinadas memórias
de macacos com galho:
que a metropolitana
saúde
é
um esquema 
incompleto de trevas.
E que fazer?
Regurgitar latrocínios
para se aproveitar?
Proceder metodicamente
e não como lua azul.
Só na singularidade.
7/8/2018

Mais que morrer um pouco

Morro um pouco todos os dias, e é inevitável, mas, hoje, morri de vez, antes da morte definitiva. E agora?
Paira a ameaça de não mais regressar aos colos do tempo onde permaneço, frente aos azuis, enquanto a brisa me lambe a pele e os cabelos. Tudo me parecerá ser menos ainda do que ar. 
Ah, o que me permite sorver aos golinhos cada segundo! Mas sem olhar em volta... E agora?
Paira a ameaça de esquecer para sempre como rir, após mutilações várias a um corpo que vive (viverá?), mas faz morrer! Um zénite de negro!
Urge a força para estoirar a apatia pantanosa do não ser, do não fazer! E que força! A força das pombas. A força das margaridas. Mais: a força do que é silvestre!

23/9/2018

Desassossego

Vejo óculos 
em janelas esquecidas
pendurados,
rastos de passos
com pés perdidos,
fontes das nuvens
a entornar pássaros tontos,
também alguns vácuos...
uns mais do que outros.
Tudo jorra intermitências
sem fim,
de variegadas cores,
unidas num só branco.
Mas eu estou inspirada em
cadeiras do avesso,
e ainda não grito silenciosamente
por ter prometido e não cumprir.
Assim ruge
violento tsunami à espera:
o desassossego
como mais do que cães de fila.
17/9/2018

Desalento

Um verdadeiro pesadelo
que se sonha ou antevê
é musica tenebrosa,
é dança desengonçada,
é uma grande desarmonia
no mundo.
É caco.
É avaria.
É lixo espalhado pelo chão.
É pior que veneno
que nem com antídoto se anule.
É homicídio.
É maldade pura.
É o hades.
E as asas que até então serviam para voar
surgem queimadas.
Cheira a chamusco.
Para quando
o avistar dos pássaros
e o marulhar
de um mar chão?
10/9/2018

Memórias

Mensagens
para instantes
de asas
em rodopios
ou linhas retas breves.
Virar também à direita,
à esquerda
e atravessar
sonhos
em constante mutação,
como crisálidas
que logo acordam 
borboletas.
O que resta?
Pequenos voos
e repastos agridoces.
3/9/2018

Horizontes

Navegar 
na rota 
do desassossego
é abrir horizontes
volantes,
ébrios ou talvez não,
de vermelho;
portas e janelas
suplicantes,
ou, apenas,
postigos
que dão frequentemente 
para o inominável;
as rosas.
Ah! Ousar
cruzar
assim...
26/8/2018

Brevidade

Respiro
e paro,
só um instante,
mais, porém, que
movimento colibri.
20/8/2018

Trajeto

Camiões e autocarros,
grandes meios de transporte inomináveis,
em rotas de pássaros,
colidem
com dorsos inesperados grátis,
encolhidos no canto último
das vestes sombra.
É um luar
o trajeto,
mas não sem pedras.
E congratula-se
com as ainda
pétalas perdidas
que dedinhos sabichosos
soltaram contando.
13/8/2018

Boas vindas gulosas (mas não, não é um blog de culinária)

Aproxima-se o fim dos dias,
em empanturrados esquemas
de gorduchices inchadas,
flores sem pétalas
e peixes assassinados
antes do grelhador.

(Ámen aos menus!)
7/8/2018