quarta-feira, 10 de março de 2021

Parto de palavras II


Prenhes de fim
de início
de meio
Sem terem 
para onde ir
Estas palavras
presas
Para quando um real 
nascimento?
Nevoeiro...
Lodaçal...
SOS



segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Diapasão

 

Há pessoas que são 

como relógios,

embora gostem

de chapinhar nas poças de água.

Ai, medições...

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Parto de palavras

São prenhas
as horas
quando cada minuto conta
e é já tarde
a urgência faz-se
fim
do prazo de validade
e eu grito
de dor
Um começo
Um fim
Palavras
para onde ides?

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Autofagia

Se
as plantas também
têm sentimentos,
só resta aos vegetarianos
a autofagia.

Eu aplico
a autofagia
em tudo.
E por isso
estou a
definhar.

quarta-feira, 17 de julho de 2019

Tratado de chicletes

Posto
chicletes Gorila
(passo a  publicidade),
mas, antes, extraio-lhes o açúcar
todo.
São poemas sem alma.
Hoje é tudo adoçantes,
ou zero.
Ora, ora!
Modas!
Como é que vou
tirar as chicletes
daqui?
Só raspando.

São efémeros os poemas,
como as chicletes.
Mastiga e deita fora.
Há para todos os gostos.
Alguns têm recheio.
Mas não são Gorila.
Que eu saiba.
Enquanto dura o sabor,
são boas.
(As chicletes)

quinta-feira, 27 de junho de 2019

Adeus

Os meus olhos partiram
na direção do comboio
do martírio.
Partiram e não voltaram
mais.
Adeus às paisagens.
Adeus à luz.
Adeus às gentes.
A menina que eu fora não ficou.
A adulta que fui também não permaneceu.
Esta não deixou saudades.
Foi como um prato viscoso
e nojento de qualquer coisa de
águas estagnadas e mal cheirosas.
Eu era uma doença.
Mas veio o escuro,
o silêncio,
a solidão.
Adeus.
Sem nostalgia
- a nostalgia é um luxo -,
só com dor.
Até quando?

quinta-feira, 13 de junho de 2019

Irresponsabilidade

Os deuses movem-se no espaço, contemplando alegremente as misérias humanas. Cospem aguaceiros e sujam as mãos a comer sem quaisquer maneiras, mãos que sacodem, projetando as imundícies - os asteróides - no espaço sideral. Emitem ventosidades com estrépito pelo ânus - trovões e raios - e por meio daquelas também acendem as estrelas. Já os planetas, a lua e outras minudências do espaço não se sabe de onde virão... Talvez dos buracos negros, que são as suas bocas horrendas...
Nós, hipnotizados e alienados, não conseguimos vislumbrar esses deuses.
E eu sinto-me uma pata choca não sei porquê.

E "prontos": escarrei um texto!

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Namoro

É doce
e quente
essa vereda, no final.
Entretanto, é
um caminho difícil;
uma luta
que se trava entre
a noite e o dia,
o sol e a lua,
a terra e o mar.
Parece inglória.
Mas esclarece,
no fundo.
É intergaláctica.
É doce
e quente, no final.
Mas, antes de ser fruto,
é fogo a consumir;
forno de pão a funcionar.
Amor,
onde moras?