sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Em memória do dia de finados.



Cinza enche os nossos corpos,
depois de muito badalados.
São quase nada, questões de segundos,
os poemas que plantamos
com as pontas dos dedos
sobre a nudez.
E com eles de permeio
na cinza
esquecemos as derrotas
que nos derrubaram
nesse fatídico dia da morte de outros.
Porque é urgente
fazer vencer o verso.
E fazer brotar a flor.
Antes que venha a escuridão.


sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Projeto abortado

Resultado de imagem para cravos e rosas
(imagem retirada da internet)

As rosas
recusaram-se a florir,
apesar de todos
os cuidados que tive com elas.
Planeei então roubar algumas
da televisão,
mas não vi nenhumas nesse dia
e já não pude oferecer-tas
como costumava.
Vou agora semear cravos.
Pode ser que não se recusem a ser gente.



sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Sem perdão

A história que me contas já não tem perdão,
porque te esqueceste de pousar as aves na janela
e não lhes deste de comer.

Estás sem perdão,
porque as árvores que não podaste sufocaram,
esquecidas de ti e do teu vento bumerangue.

Estás sem perdão,
porque conservaste as pedras apanhadas no areal
para mais tarde recordar.
mas não recolheste conchas da praia.

Estás sem perdão,
porque olvidas o sol e o luar

Ressuscita o arrependimento:
move-te na natureza
como animal livre
e faz o gesto da caçada, mas só por
necessidade.

Então terás as aves
saciadas no peitoril da janela, e o
céu e o mar cobrir-te-ão do seu azul.

E tudo o que era um só sentido
virará dois.

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Ocasos e alternâncias para final melodioso

Aprumam-se
os fios do tempo,
e o resultado é
um ocaso carmim
na mente do poeta.
Há solstícios e equinócios,
e todos concorrem para
o mesmo
na sucessão dos meses.
Abrem-se os segredos,
e rejeitam-se as letras:
o poeta está agonizante.
O poeta morreu.
Viva o poeta!
Ele pediu uma flor.
E, em resposta, tu chilreias.

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Regresso ou virar do avesso?

Os ponteiros do relógio
giram em sentido contrário,
as folhas caídas das árvores
regressam aos ramos,
e tu, que te encontraste,
perdes-te de novo,
como chapeleiro louco
nesta estação de onotuo,
que parece primavera,
mas não é.